Você é uma mãe empreendedora?



Felipe Gombossy
Era uma vez uma nova mãe e seu bebê. E na hora da volta da licença-maternidade, essa mãe se pegou pensando em como seria bom se ela fosse dona dos próprios horários para estar mais perto do filho. Eis que ela decide deixar o emprego e investir em um negócio próprio. Essa história pareceu familiar? Pois é mesmo. Cada vez mais mulheres optam por uma alternativa que permita mais tempo livre com a família.
Nenhuma pesquisa ainda foi feita para mostrar esse movimento específico entre as micro e pequenas empresas no Brasil, mas não é difícil percebê-lo. O chamado “empreendedorismo materno” já conta com pelo menos três sites e blogs na internet que pretendem formar uma rede de apoio e contato para as mães que decidem mudar também essa parte da vida. Uma projeção do Sebrae-SP dá conta de que em 2020 a porcentagem de mulheres nos chamados empreendimentos de “conta própria” (que não têm empregados) deve chegar a 47%. O último levantamento, feito em 2000, apontava esse número em 32%.
À frente desses negócios estão mulheres como Alessandra Piu Sevzatian, 40 anos. A publicitária paulistana abriu mão de uma carreira sólida no mercado publicitário, no qual atuava há mais de 15 anos, para abrir seu próprio negócio, uma empresa que aluga brinquedos artesanais e sustentáveis, a Joanninha. A principal motivação de Alessandra atende por Mariana, sua filha, hoje com 5 anos. “Fiquei sete meses e meio de licença-maternidade. Mas quando esse período estava chegando ao fim, comecei a pensar se devia de fato voltar a trabalhar”, diz Alessandra.
A vontade de ficar em casa era grande, mas Alessandra decidiu retornar por um simples motivo: acostumada ao trabalho duro, não se via exercendo apenas a função de mãe. “Voltei, mas a vontade de empreender começou a aflorar”, afirma. Apaixonada pelo universo infantil, começou a sonhar com diferentes tipos de negócio voltados às crianças. “Cheguei a fazer uma pós-graduação em educação infantil, mesmo não tendo nada a ver com o meu campo de trabalho na época.”
Essa motivação de Alessandra é uma das coisas que diferem os homens das mulheres no mundo dos negócios: eles são movidos a inovação enquanto elas se sentem estimuladas por uma paixão, o que tem tudo a ver com a chegada de um filho. Essa tendência foi identificada em um estudo realizado pelo Endeavor, instituto com presença mundial que auxilia empreendedores, para a Unctad (Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento) em seis países, entre eles o Brasil.
Outro dado desse estudo demonstrou que as mulheres são menos propensas a riscos que os homens. E isso, nesse caso, pode ser um ponto positivo. “Os maiores erros que as pessoas, sejam homens, mulheres, com filhos ou não, cometem na hora de empreender é a falta de conhecimento prévio sobre o mercado e a precipitação”, explica o consultor do Sebrae-SP, Renato Fonseca de Andrade. Ele explica que da ideia até a abertura de um negócio costuma-se precisar de cerca de seis meses para estudar, conhecer e definir a melhor estratégia para seguir.

Em 2009, ela usou de novo a paixão pela costura e criou uma linha infantil, a Maria Lili, e outra feminina adulta, a Erika Li Ateliê, além de prestar consultoria de estilo. E não se arrepende de ter insistido. “Aprendi muito com o fracasso da sociedade. Hoje já estou investindo e aumentando minha equipe e produção.”
Erika Li, 40 anos, e mãe de Maria, 7, percebeu o erro ao avaliar mal seus primeiros sócios. Ela deixou as agências de publicidade para ser estilista de uma marca de roupas femininas com um casal de amigos, mas o relacionamento dos três não deu certo. Erika chegou a voltar a ser funcionária antes de tentar empreender de novo. “Perdi praticamente tudo em parte por inexperiência minha, que não pesquisei ou fui atrás de entidades que pudessem me ajudar nisso”, explica. Uma estimativa do Sebrae aponta que aproximadamente 50% das microempresas quebram após dois anos de sua fundação.
Além da paixão, as mulheres podem se valer de uma outra característica essencialmente feminina para se dar bem como microempresarias: a facilidade de estabelecer e administrar relacionamentos. Isso é necessário para você tirar melhor proveito de uma rede de contatos ampla e bem estruturada, que ajuda a formar bons fornecedores, colaboradores e clientes. “As mulheres são chamadas de multitarefas e isso é fácil de entender quando a vemos interagir na sociedade, já que os relacionamentos vão em todas as direções”, disse o pensador e cientista austríaco Fritjof Capra em entrevista à CRESCER sobre como o papel da mulher é diferente do desempenhado pelo homem na sociedade atual.
A agora ex-advogada Laura Barbosa, 31 anos, mãe de Clara, 3, que o diga: começou a Laranjeira Kids comprando roupas infantis e revendendo para as amigas há um ano, e seis meses depois percebeu que tinha demanda para montar um site, alugar um espaço para o estoque e ter um sócio investidor. “E tudo começou porque eu queria mais tempo para ficar perto da minha filha.”
Claro que a mudança não tem só a parte boa. A maioria das pessoas que decidem investir em um negócio próprio precisam de muita dedicação, principalmente no início, e se for a única fonte de renda da família pode ser necessário apertar o orçamento. E será preciso também uma boa dose de autocontrole quando seu filho a vir em casa e pedir atenção. Ao contrário das mães que passam o dia fora, você tem de ser muito concentrada, definir bem quando é hora de fazer o quê e colocar limites claros para as crianças e toda a família. Laura, por exemplo, teve de abrir mão de algumas coisas que tinha quando era empregada. “Perdi minhas férias e alguns luxos, mas compensa almoçar em casa com minha filha todos os dias.” Afinal, é isso que importa quando são os filhos que motivam o empreendedorismo.
TESTE
Você está pronta para ser empreendedora?
Se passa pela sua cabeça a ideia de investir em um negócio próprio para se dedicar mais à maternidade, com certeza surgem também muitas dúvidas. Este teste, elaborado para a CRESCER por Renato Fonseca de Andrade, consultor do Sebrae-SP, vai ajudá-la a saber se já está preparada para o novo desafio.
1. Você tem vontade de empreender e abrir um negócio próprio? a) Acho muito arriscado, pois tenho muitas responsabilidades como mãe. 
b) Já pensei nisso, mas tenho pouco tempo para me preparar, fazer cursos e planejar. 
c) Minha vontade é grande e consigo me organizar.
2. No seu dia a dia, você tem como dedicar tempo para desenvolver um novo projeto? a) Não, convivo com muitos imprevistos relacionados às atividades dos meus filhos. 
b) Tenho poucas horas, mas dá para encaixar algumas coisas na agenda do dia a dia. 
c) Sim, consigo organizar as atividades profissionais e da família.
3. Ter flexibilidade de horários é um aspecto que você avalia antes de decidir sobre a atuação em um negócio próprio? a) Não, meu foco está na melhor oportunidade. 
b) Eu gostaria de ter flexibilidade, considero isso em conjunto com outros fatores. 
c) Preciso ter horários flexíveis para ficar satisfeita com a escolha de empreender.
4. Se os resultados do negócio não forem os esperados no prazo definido, você... a) Me sentiria culpada por ter arriscado. 
b) Procuraria entender a situação e encontrar soluções. 
c) Reavaliaria o planejamento e buscaria outras possibilidades de resultados.
5. Com relação ao investimento financeiro em uma nova empresa: a) Teria reservas e não preciso comprometer o orçamento familiar. 
b) Afetaria o orçamento e o padrão de vida familiar em um curto período de tempo. 
c) Mexeria drasticamente com o orçamento e o padrão de vida familiar.
6. Como você utilizaria sua rede de contatos para os negócios? a) Não saberia como fazer isso sem parecer oportunista. 
b) Tenho consciência da importância, mas precisaria aprender mais sobre como utilizá-la.
c) Utilizaria a rede para solucionar problemas e ter acesso a novas oportunidades de negócios.
7. Você se sente preparada para empreender? a) Sim, tenho consciência dos riscos envolvidos e sei realizar a gestão de uma empresa. 
b) Preciso aprender mais sobre gestão de negócios. 
c) Não me sinto preparada, falta tempo para me dedicar.
8. Como você lida com a incerteza? a) Sou conservadora e tenho aversão às incertezas. 
b) Procuro correr riscos calculados, avaliando cada situação e seus possíveis ganhos. 
c) Prefiro correr riscos que tenham pouco impacto na minha vida financeira.
9. A sua família: a) Não concordaria com a abertura da empresa e demanda muito de sua atenção. 
b) Acharia interessante sua ideia, porém tem dificuldades em alterações na rotina do lar. 
c) Apoiaria o início do empreendimento e compreenderia as mudanças na rotina do lar.
10. Com relação às suas expectativas com o negócio: a) Desejaria obter realizações profissional, financeira e pessoal com o novo empreendimento. 
b) Seria uma maneira de ocupar o tempo. 
c) Não saberia bem o que posso esperar.
Resultado
   Reprodução
0 a 10 pontos: Avalie melhor se esse é seu momento de empreender. Para abrir e manter um negócio próprio, você precisa se capacitar previamente, elaborar um plano de negócios detalhado e estar pronta para correr riscos calculados e enfrentar obstáculos.
11 a 15 pontos: Você tem consciência de diversos aspectos importantes, mas é fundamental aprimorar. Uma gestão de sucesso exige dos empreendedores capacitação constante, planejamento e replanejamento, olhar atento às mudanças de mercado e aos clientes, entre outros aspectos.
16 a 20 pontos: Você apresenta boas condições para ter seu próprio negócio, mas saiba que empreender é estar atento ao mercado, aos clientes, à inovação, às mudanças, entre outros aspectos. O empreendedor de sucesso está sempre em constante busca por informações e conhecimento.

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