“Tomei anestesia geral no parto”



 Arquivo pessoal
Em 2009, engravidei pela primeira vez. Em um ano e meio, perdi quatro bebês. Conceber nunca foi o problema, pois eu engravidava com um “espirro”, como dizia meu médico. A questão era manter a gestação. Decidi, então, buscar ajuda com especialistas em fertilidade no Rio de Janeiro. Não podia aceitar a possibilidade de perder mais um filho.
Finalmente, fui diagnosticada com trombofilia, uma alteração no sistema de coagulação que interfere no funcionamento da placenta. Fiquei assustada, mas aliviada por terem descoberto a causa dos abortos. Depois de conversar com vários médicos, ficou decidido que eu seria medicada com heparina e ácido acetilsalicílico (dois anticoagulantes) na gestação seguinte. Também tive de tomar a vacina ILP (injeção de linfócitos paternos), que evita que o organismo da mãe “ataque” o feto ao reconhecer as células estranhas que ele traz do lado paterno. A proteção já existe normalmente no organismo da mãe, mas se a gestante sofrer abortos de repetição, há suspeita de alguma falha.
No final de 2010, recomeçaram as tentativas para engravidar. Dessa vez, não foi de primeira. Mas não fiquei triste. Para mim era um sinal de que algo diferente ia acontecer. A boa notícia veio em dezembro. Eu já conhecia de cor todos os sintomas e o teste confirmou: eu estava grávida.
Com a heparina, minha gravidez estava perfeita e a Clara se desenvolvia muito bem. Ainda assim, minha obstetra e o anestesista acharam que era mais seguro optar pela cesárea. A cirurgia estava agendada para o dia 22 de agosto, quando eu completaria 38 semanas. Por recomendação médica, na 36a, suspendi o uso do AAS, cujo efeito dura uma semana. Já a heparina poderia ser interrompida 12 horas antes do parto. Do contrário, os anticoagulantes ofereceriam risco de hemorragia no parto.
No dia 15, saí do trabalho e fui a uma consulta. Estava tudo bem. Tinha reservado a semana seguinte para aproveitar os últimos dias sem um bebê. Marquei horário no salão de beleza, planejei visitar creches, coisas assim. No dia seguinte, porém, acordei às seis horas com uma sensação diferente. Havia um pouco de sangue e líquido na calcinha. Liguei para a médica, mas pensei que ela só iria pedir para eu ficar de repouso. Quando atendeu, entretanto, me mandou correr para a maternidade, porque provavelmente a bolsa tinha rompido. Não estávamos preparados, ligamos correndo para as avós. A mala da maternidade ainda estava na lavanderia!
Quando cheguei ao hospital, lembrei que seis horas antes eu tinha tomado a heparina. Ao conversar com a equipe médica, o anestesista me explicou que se me desse a peridural havia risco de lesão na medula. A solução era a anestesia geral, que é aplicada em outra região. Quando ouvi isso, chorei muito. Mas confiava nos médicos. Por isso, logo me conformei. Afinal, seria o único jeito de a minha filha vir ao mundo com segurança. Reforçamos a equipe de foto e filmagem, para que depois eu pudesse acompanhar o nascimento nos mínimos detalhes.
O parto foi rápido. Em 15 minutos, já haviam retirado a bebê. Isso foi necessário para evitar o contato dela com a medicação. Meu marido esteve ao meu lado o tempo todo e até cortou o cordão umbilical. Clara nasceu às 11h24, saudável, e só fui vê-la uma hora depois. Mas aí não contive a emoção, foi aquela choradeira...
Anestesia no parto
Há três tipos de anestesia que a mulher pode tomar. Cada uma é adequada para um tipo de situação. Entenda.
 Peridural A agulha é aplicada na região lombar e fica ligada a um cateter por onde entra o anestésico. Tira a sensibilidade, mas não os movimentos. É comum em partos normais.
Raquidiana A agulha vai mais fundo do que a peridural, chegando à região do liquor. A aplicação é única e tem efeito imediato. A mulher perde totalmente a sensibilidade da cintura para baixo. A raqui (como é chamada) é a anestesia mais aplicada em cesarianas.
Geral É reservada a casos graves, como mães com problema cardíaco, eclâmpsia ou risco de hemorragia. Dá aos médicos mais controle sobre o estado da paciente. Se o parto for rápido, a anestesia nem chega ao bebê.
Fonte: Oscar César Pires, diretor do Departamento Científico da Sociedade Brasileira de Anestesia (SBA)
 Arquivo pessoal
O parto de Clara (acima) foi filmado e fotografado por profissionais: a mãe não queria perder nenhum detalhe

No ritmo do bambolê


  Reprodução
Está no ar a edição eletrônica de Quintal dejulho. Encontre, aqui, tudo que foi preparado para você pela equipe da revista. 

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Suas Ideias



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Meu filho precisa de fono?
A reportagem veio na hora certa e tirou todas as minhas dúvidas. Minha filha começou a ir ao fonoaudiólogo aos 3 anos porque falava poucas palavras. E assim, como na reportagem, eu também pensei que ela só falava errado para chamar a minha atenção. Com certeza, essa matéria vai ajudar muitos leitores – assim como me ajudou. Silvana Camargo, mãe de Sophia, 4 anos
Momento Crescer
Sou assinante, mãe de dois filhos, e adoro a revista. Sentar e ler a CRESCER é um momento do dia que é só meu. Aprendo, divido, me tranquilizo... e por aí vai! Obrigada a todos que fazem dessa revista um momento tão bom para mim! Renata Custódio, pelo Facebook da CRESCER
Aqui em casa seguimos várias dicas que são publicadas na revista. Tenho uma filha chamada Sophia, que irá completar 3 anos. Todos os dias aprendo algo novo com vocês para cuidar melhor dela! Lucélia Gerlades, mãe de Sophia, 2 anos
Correção
• Na seção Onde Encontrar, da edição de junho, faltou o endereço da Maria Lembrancinha (marialembrancinha.blogspot.com.br) e da Nina Festa Roupinha de Mesa (roupinhademesa.blogspot.com.br, 11 2365-1642)
• Na seção Eu Quero!, o quarto de Alessandra Braggion foi feito por Q&E Bebê.

Nome próprio



Ilustração Alan Leitão
Todos os anos nascem 3 milhões de bebês no Brasil. Aproximadamente 49% deles são do sexo feminino. Mas só um vai se chamar Alícia. Bom, talvez dois. Ou três... ou centenas. Ainda assim, quando o agente de aeroporto José Moreira, de Itabuna (BA), soube que um casal de amigos próximos teve a ideia de batizar a filha com o nome que ele e a esposa, Gisele Tabosa, haviam escolhido anos antes, ficou muito chateado. “Será mesmo que foi coincidência?”, questiona, pois todos já sabiam da intenção de José e Gisele. Os dois cogitaram até mudar a decisão. Mas o desejo antigo, que era homenagear uma das bisavós maternas da criança, prevaleceu. A Alícia de José e de Gisele nasce daqui a três meses. E ponto final.
A escolha do nome de um bebê é cheia de significados. Ela traz os gostos, a história e a expectativa dos pais, além de marcar o princípio do vínculo com aquela criança que está para nascer. “O filho começa a existir de verdade para a família no momento que recebe um nome”, afirma a psicóloga Inúbia Duarte, do Instituto de Ensino e Pesquisa em Psicoterapia, de Porto Alegre (RS). E justamente por ser algo tão particular, muitos pais sentem-se plagiados ao descobrir que outro casal próximo teve a mesma inspiração.
Pior ainda se o “plágio” acontece dentro da família. A empresária paulistana Nicole Ceroni, por exemplo, jura que a cunhada “roubou” um de seus nomes masculinos prediletos. “Quando estava grávida, ela perguntou como iria se chamar o bebê. Respondi: Maria Eduarda ou Valentim”, conta. “Na época, ela ainda me criticou dizendo que soava como alguém velho.” Como Nicole teve uma menina, batizou a filha de Maria Eduarda, hoje com 6 anos. Um ano depois, a cunhada engravidou e, para a surpresa de Nicole, colocou o nome da criança de... Valentim. “Não pude acreditar!”, relembra. Na gravidez seguinte, mesmo sabendo que seria mãe de um menino, Nicole deixou para lá. “Achei que seria muito estranho dois primos com o mesmo nome.” Assim, em 2011, ela deu à luz Pedro. Mas o nome foi revelado apenas no finalzinho da gravidez – só por precaução.
Conforme-se!
Mas será mesmo que a gente tem o direito de ficar chateado quando alguém “rouba” o nome do nosso filho? Para responder a essa questão, a escritora norte-americana Pamela Redmond Satran, coautora do site Nameberry.com e de diversos livros sobre nomes de bebês, faz outras perguntas: 1) O nome que você escolheu é incomum? 2) Você já está grávida ou apenas reservando o nome para um bebê que ainda é teoria? 3) E qual a sua proximidade, emocional e geográfica, com a pessoa que fez a mesma escolha? Por exemplo, vamos supor que você esteja mesmo esperando e conte à sua vizinha, também gestante, que planeja chamar o bebê de Ozias, que era o nome do seu avô. Então, o bebê da vizinha nasce antes – e ela batiza a criança de Ozias. Nesse caso, Pamela acredita que, sim, você tem toda razão de ficar brava e até cortar relações. “No entanto, se você e uma amiga que vive em outra cidade adoram um nome popular como Amanda, o jeito é aceitar.”
Tem horas, porém, que vale mesmo a pena “proteger” o nome do seu futuro filho – ainda que ele seja de domínio público. Pamela recorda de uma leitora do site que pretendia dar o nome de Susana à filha. Claro que todos na família ficaram sabendo, incluindo a enteada da grávida. Só que a ex-mulher do pai do bebê, quando ouviu a novidade, adotou uma cadela bem feia. E adivinha qual nome foi dado ao bicho de estimação?
A funcionária pública Rose Misceno de Araújo, de Niterói (RJ), também tomou uma medida preventiva. Ela dizia que a filha, que hoje tem 3 anos, ia se chamar Madonna. “As pessoas temiam que ela sofresse preconceito na escola”, lembra. A brincadeira era para garantir a originalidade: a criança foi batizada de Luna (Lua, em espanhol).
Tradicional, moderno ou único?
As motivações que levam à escolha de um nome variam. Duas mães que optaram por Joaquim, entretanto, não necessariamente tinham a mesma intenção. Uma delas pode ter feito uma homenagem a um parente, enquanto a outra simplesmente é fã da apresentadora Angélica, que é mãe de Joaquim, 7 anos, Benício, 4, e está esperando uma menina (cujo nome ainda não foi revelado!). “Hoje em dia, um nome é muito mais ideológico do que identificador, como foi no passado”, afirma a linguista Patrícia de Jesus Carvalhinhos, professora da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP). Isso porque, atualmente, o significado já não faz diferença na vida do indivíduo. “Mas a escolha ainda é feita principalmente em virtude de sua beleza sonora”, completa. Falar o futuro nome e sobrenome do bebê em voz alta, aliás, é uma das dicas dos especialistas para escolhê-lo sem erro (confira outras ideias no quadro).
E se você está se achando muito moderno porque a sua filha tem o nome de uma cantora famosa, saiba que essa prática de homenagear ídolos ou heróis é comum desde a Idade Média. “As famílias de plebeus na Europa não raro colocavam em suas filhas nomes de rainhas, que eram as ‘celebridades’ da época”, conta Patrícia.
Esses nomes, atualmente, fazem parte do que os especialistas classificam como perenes, ou seja, nunca desaparecem. Nessa categoria, no Brasil, entram também nomes como Maria e José. Há ainda os chamados cíclicos, ou seja, que ficam sumidos por uns tempos, mas depois voltam às listas dos cartórios. E os que variam de acordo com a moda, como os de jogadores de futebol. “Hoje vivemos em um mundo globalizado e os nomes também sofrem influência da mídia, da TV, das redes sociais”, diz a linguista Patrícia. Ela explica, porém, que embora o acervo seja maior, nem sempre as pessoas inovam. Tanto que os nomes clássicos, como Pedro, Bernardo, Esther e Eduarda, só para citar uns exemplos, voltaram à moda. Segundo Clotilde Perez, professora de ciências da comunicação da USP e da PUC-SP, faz todo o sentido. A mesma globalização e seu excesso de informações, que tornam as coisas tão voláteis, acabam por nos deixar meio perdidos. “Por isso, estamos buscando as nossas raízes e damos valor a tudo o que nos traz uma memória afetiva, como a família, o vintage, o remake”, explica. Assim, se a geladeira vermelha parecida com a que a sua avó tinha é a última tendência, o nome dela também o é! “Um nome, afinal, funciona como um espelho da cultura”, completa Patrícia.
Copiado ou não, o nome do filho é especial para os pais – mas somente para eles. OK, talvez para os avós também! As outras pessoas, vale lembrar, não sabem que Vítor quer dizer vitória e que a mãe o escolheu porque teve uma gestação difícil. Por isso, a dona de casa Sonia Silva Peixoto da Rocha, de São Paulo, não ficou triste quando, há nove anos, uma amiga próxima, que teve bebê meses depois dela, também chamou a filha de Manuela. “A minha Manu é tão linda quanto a dela”, diz Sonia, que também é mãe de Joaquim, 4 anos. “Assim como nós duas, elas são muito amigas.” Por último, se alguém copiou o nome que você elegeu com tanto carinho, no mínimo é porque o achou bonito. E ainda que seu filho tenha vários colegas com o mesmo nome na escola, para você ele sempre vai ser único!
Acerte na escolha! 
Discuta o nome com o parceiro e, se quiser, com a família também. Mas a decisão tem de ser algo que VOCÊS gostem.
“Roubaram” o nome que você escolheu? Aposte em nomes compostos. Pedro, por exemplo, pode virar João Pedro. Pronto: ficou único outra vez!
Escolha um nome que signifique algo para você. Assim, a escolha vai ser duradoura – e não apenas algo que estava na moda.
Não sabe se o nome vai combinar com o seu filho? Que tal esperar ele nascer para ver o rostinho dele?
Inove! Se quer um nome descolado, pode inventá-lo ou buscar uma palavra que não seja frequentemente usada para nomear pessoas, como Amora ou Mel. Tenha em mente, porém, que o oficial do cartório pode recusar prenomes que exponham a criança ao ridículo.
Ilustração Alan Leitão


O destino por trás dos nomes


De acordo com a Numerologia, o nome que recebemos ao nascer vai influenciar a nossa trajetória. Para cada letra, existe um número e a soma deles indica a personalidade de cada um. A numeróloga Maricy Romano ensina a fazer o cálculo. 

Passo-a-passo 
a) Cada letra do nome corresponde a um número, de acordo com a tabela abaixo. Faça a substituição. 

1 A, J, S 
2 B, K, T 
3 C, L, U 
4 D, M, V 
5 E, N, W 
6 F, O, X 
7 G, P, Y 
8 H, Q, Z 
9 I, R 

Por exemplo: C A R O L I N A S A N T O S 
3 + 1 + 9 + 6 + 3 + 9 + 5 + 1 + 1+ 1 + 5 + 2 + 6 + 1 
Total: 53 

b) Some os números até reduzi-los a um algarismo (de 1 a 9). Se o resultado for 11 ou 22, não é preciso somar de novo. Eles são chamados de números mestres e têm um significado especial. Assim, o número de Carolina Santos é 5 + 3 = 8
Veja o perfil de cada número

Palavras-chave: ambição, independência, iniciativa 
Características: enérgico, determinado, individualista 
Áreas de atuação: política, negócios, teatro, arquitetura

Palavras-chave: compreensão, parceria, união 
Características: amigo, sensível, dependente 
Áreas de atuação: diplomacia, educação, psicologia

Palavras-chave: comunicação, imaginação, sociabilidade 
Características: alegre, jovial, carente 
Áreas de atuação: jornalismo, artes, sociologia, advocacia

Palavras-chave: disciplina, segurança, responsabilidade 
Características: trabalhador, organizado, responsável 
Áreas de atuação: administração, negócios, engenharia

Palavras-chave: mudança, liberdade, dinamismo 
Características: aventureiro, corajoso, disperso 
Áreas de atuação: esportes, fotografia, publicidade

Palavras-chave: responsabilidade, família, sensibilidade 
Características: cuidadoso, preocupado, mania de limpeza 
Áreas de atuação: medicina, política, veterinária, assistência social

Palavras-chave: perfeição, sabedoria 
Características: detalhista, intuitivo, desconfiado 
Áreas de atuação: ciência, pesquisa, magistério, direito

Palavras-chave: raciocínio, controle, autoridade 
Características: líder, decidido, competitivo 
Áreas de atuação: administração, direito, negócios

Palavras-chave: carisma, idealismo 
Características: sonhador, bondoso, solitário 
Áreas de atuação: jornalismo, assistência social, medicina, magistério
11 
Palavras-chave: liderança, controle, força 
Características: determinado, visionário, perfeccionista 
Áreas de atuação: artes, administração, história, jornalismo, publicidade
22 
Palavras-chave: vida, construção 
Características: honesto, intuitivo, persistente 
Áreas de atuação: diplomacia, negócios, política

Guia de nomes


    Busca de nomes

    Use nosso arquivo de 1103 nomes de bebês para encontrar significados e origens. Depois é só escolher aquele que mais gosta para o seu filho.
     
    A B C D E F G H I J K L M NO P Q R S T U V W X Y ZOs 5+

    Quando a mania passa do limite



    Fotomontagem: Jutta Klee/Corbis e shutterstock
    Organizar os próprios brinquedos, o material escolar e até os sapatos. Quem não gostaria que o filho fizesse tudo isso sem precisar ficar pedindo? Joana*, como qualquer outra mãe ou pai, elogiava Lucas*, 5 anos, por esse comportamento. E o mesmo acontecia na escola: era citado como um aluno exemplar nas reuniões de pais. “Me sentia orgulhosa”, afirma. Mas essa mania passou a ser frequente, e intensa. Ele ficava horas enfileirando os carrinhos – são cerca de 80 – simetricamente. Um tinha que estar do lado do outro, senão, recomeçava. Não era uma brincadeira. “Comecei a perceber que ele fazia tudo igual a mim”, afirma. Joana tem o transtorno obsessivo-compulsivo (TOC). Mas ele não estaria imitando a mãe? Ou não seria apenas uma mania?
    “Repetir o comportamento de alguém não causa TOC, e manias não fazem com que a criança passe horas realizando a mesma atividade todos os dias”, afirma Maria Conceição do Rosário, uma das psiquiatras mais renomadas do país em TOC na infância, professora da Universidade Federal de São Paulo. É o extremo, o excesso, o exagero. Tudo bem seu filho arrumar os carrinhos e não deixar que ninguém mexa na coleção – mas ele vai brincar com eles, chamar um colega para apostar corridas, levar na escola. A criança com TOC quer alinhá-los e, com o tempo, evita chamar os amigos em casa ou ir na deles porque não quer correr o risco de que a ordem seja quebrada. E isso se repete em outras situações.
    Querer lavar várias vezes as mãos para mexer com água pode ser uma brincadeira, mas não conseguir se sentar à mesa para comer se não tiver com as mãos limpas, não. Chamar você algumas vezes porque quer alguma coisa é normal, mas repetir uma mesma palavra por 30 minutos, não. É OK apagar a lição de casa para que a letra ou o desenho fique mais bonito, mas não entregar no prazo porque apagou tanto por achar que não estava perfeito é um alerta.
    Esses sinais de que a criança pode desenvolver a doença surgem aos 2 ou 3 anos – em cerca de 50% dos casos de TOC em adultos, mostram as pesquisas, os sintomas apareceram até os 14 anos. Com Lucas foi assim. No ano passado, quando o comportamento repetitivo ficou mais evidente, Joana procurou ajuda. E foi constatado: ele tem predisposição para o distúrbio. Desde então, ele entrou para um estudo pioneiro no mundo, que está sendo realizado no Hospital das Clínicas em São Paulo, sobre TOC e hereditariedade.
    Todos os pacientes selecionados têm predisposição e um dos pais ou irmão com ansiedade (considerado um fator de risco) ou TOC – quando um parente de primeiro grau tem o distúrbio, a criança tem 11 vezes mais chance de desenvolvê-lo. O grupo, composto por 60 crianças e adolescentes de 3 a 17 anos, será estudado por um ano. Metade vai ser observado. Os pais da outra parte serão “treinados” para lidar com os sintomas do filho. “Queremos saber se a intervenção precoce, antes do diagnóstico final, faz com que esse paciente não desenvolva a doença ou, se a tiver, não sofra tantos prejuízos”, afirma Priscila Chacon, psicóloga, coordenadora da pesquisa e pós-graduanda do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP). Hoje, apesar das crianças já receberem acompanhamento, não existem provas científicas de que a intervenção precoce tenha algum resultado prático.
    Mas vale o alerta: qualquer sinal de que aquela mania está passando do limite deve ser investigado. Além de falar com o pediatra, é recomendável que a criança passe por uma avaliação com um psicólogo formado em terapia cognitiva-comportamental ou com um psiquiatra infantil. “Mesmo quadros leves precisam de tratamento porque, sem acompanhamento, podem se tornar muito graves. O TOC não afeta a inteligência nem o grau de consciência, mas pode limitar muito a vida da criança”, afirma Maria Conceição.
    Por que com meu filho?
    Não se sabe por que algumas pessoas vão desenvolver o TOC e outras não, mas é certo que não existe um único fator responsável pelo distúrbio e sim uma soma de vários componentes, como a hereditariedade, fatores ambientais (baixo peso ao nascer e complicações no parto, por exemplo), neurobiológicos (como passar por um evento traumático) e até causas desconhecidas. Felizmente, os critérios para fazer o diagnóstico estão estabelecidos.
    O primeiro é a frequência. A criança tem que passar pelo menos uma hora por dia, não necessariamente consecutiva, realizando aquela atividade, sem conseguir se controlar. O segundo é o incômodo que causa, como ansiedade e angústia. O terceiro é a interferência que provoca na vida dela ou da família. Por exemplo: se tem medo de ser contaminada por tocar em um objeto, vai deixar de frequentar espaços de lazer. “Algumas deixam de ir à escola e passam até 16 horas, em quadros mais graves, fazendo os rituais”, afirma Priscila. E não precisa ser sempre o mesmo comportamento. É mais comum que a mania mude com o tempo.
    Além disso, o transtorno gera obsessão (impulsos, pensamentos e imagens desagradáveis) e/ou compulsão (comportamento para evitar algo). “Ela precisa realizar o ritual para deixar de sentir angústia, ansiedade e se livrar daqueles pensamentos. Mas esse alívio é momentâneo, então ela repete várias vezes”, afirma Guilherme Vanoni Polanczyk, professor do departamento de psiquiatria do HC/FMUSP e um dos coordenadores do livro Psiquiatria da Infância e Adolescência (Ed. Manole), lançado este ano. Em alguns casos, a criança acredita que, se não fizer aquela atividade, como sentar e levantar da cadeira várias vezes, algo ruim vai acontecer.
    André*, desde pequeno, gostava de manter tudo limpo. A mãe, Beatriz*, nunca precisou pedir para que lavasse as mãos antes das refeições. Mas aos 12 anos ele teve o que a mãe chama de surto. “Ele me disse que não podia tocar na maçaneta porque tinha medo de se contaminar”, afirma. Começou então uma peregrinação por pediatras, psicólogos, terapeutas e neurologistas. Tudo em vão. Os médicos estimam que os pais de crianças com TOC podem levar anos da descoberta do sintoma até a primeira consulta com um especialista por uma série de motivos. “Os residentes em pediatria estudam muito pouco sobre saúde mental na infância, então existe essa dificuldade de fazer o diagnóstico em consultório. A criança que tem TOC não fala sobre o que sente, porque acha estranho e teme ser punida. Outro problema é aceitar que o filho tem o distúrbio e procurar um especialista em saúde mental, o que ainda é visto com muito preconceito”, afirma Polanczyk.
    Ele coordena o Programa de Diagnóstico e Intervenções Precoces da USP, um serviço de psiquiatria em que crianças de 2 a 6 anos com alguma suspeita são avaliadas e recebem um encaminhamento, e também é responsável por dois trabalhos que visam encurtar o percurso do paciente por ajuda: um com pediatras e psiquiatras, para mantê-los abastecidos de informações sobre doenças psiquiátricas na infância, e outro com escolas, para que os professores fiquem alertas a comportamentos diferentes.
    O diagnóstico de André, hoje com 20 anos, aconteceu há apenas quatro. A mania por limpeza se estendeu para fora de casa. Ele não pegava ônibus, não frequentava a casa dos colegas. Também deixou de pronunciar algumas palavras e apertar algumas teclas do videogame por medo que algo acontecesse. Em dois anos de terapia, ele conseguiu ter controle sobre a doença, sair de casa e prestar vestibular. Mas ele não passou, e alguns sintomas voltaram. Essa, aliás, é mais uma característica do transtorno: não há cura. A pessoa pode passar anos bem e, de repente, ter uma recaída. “Grandes mudanças, como trocar de casa, entrar para o ensino fundamental ou a morte de um parente próximo podem desencadear o distúrbio”, afirma Luciano Isolan, psiquiatra, mestre em psiquiatria pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e pesquisador do Programa de Transtornos de Ansiedade do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (RS). Mas a terapia, que pode ou não incluir medicamentos – vai depender de cada caso –, faz com que a pessoa esteja preparada para lidar com a crise. “Quando ela é capaz de identificar o problema, suporta aquele momento ruim e, se não consegue sozinha, sabe pedir ajuda”, afirma.
    Ajuda dentro de casa
    Se o acompanhamento por um especialista é fundamental, o mesmo pode ser dito sobre a participação dos pais. Entrar em grupos de apoio, como a Associação Brasileira de Síndrome de Tourette, Tiques e Transtorno Obsessivo Compulsivo (astoc.org.br) ou a Associação dos Amigos, Familiares e Portadores de Transtornos de Ansiedade (asportas.org.br), ajuda a compreender que seu filho não é o único. A partir daí, fica mais fácil lidar com a situação. Uma estratégia é interferir nos rituais, e evitar que ele se perpetue sem que cause prejuízo à criança. “Um casal que tratei, cujo filho não queria que as roupas dele fossem lavadas com as dos demais familiares, comprou uma segunda máquina de lavar. Isso não ajuda – na verdade, pode piorar”, conta a psiquiatra Maria Conceição.
    Quando você quebra o padrão com sutileza, a criança percebe que nada ruim acontece e, aos poucos, o TOC deixa de ser o foco central do dia a dia. Outra recomendação é incentivar seu filho a correr riscos seguros, como aprender a andar de bicicleta – e a se levantar quando cair. Voar sem medo, e com segurança, é uma lição para toda a vida.

    Tique é TOC?
    Não, mas cerca de 30% dos pacientes com o transtorno obssessivo-compulsivo vão ter tiques também, um comportamento involuntário e repetitivo que pode envolver um ou vários grupos musculares (como piscar os olhos muitas vezes ou pigarrear).
    Diferentemente do TOC, o tique pode ser transitório e não há pensamentos associados no momento em que o ato está ocorrendo. O tratamento é focado nos sintomas e nas situações que contribuem para a manutenção ou piora desse comportamento.



    O verdadeiro meio a meio


      Raoni Maddalena
    Na casa da secretária Luciana Trafani, ela e André, seu marido, dividem todos os cuidados do filho Arthur, 1 ano e 9 meses
    Quando se fala em dar conta de todos os afazeres domésticos, o discurso é sempre o mesmo: antes, eles eram responsabilidade das mulheres, que ficavam em casa. Agora, os tempos são outros, e, assim como elas se adaptaram ao mercado de trabalho, os homens também precisam fazer o caminho inverso. Mas e na prática, a teoria está funcionando?
    Quando perguntamos no Facebook da CRESCER se as pessoas estavam felizes com a divisão de tarefas em casa, só as mulheres responderam – e a maioria disse que não. Na casa delas, ficou dividido assim: “Eles bagunçam e eu arrumo”. Algumas até comentaram que os maridos e filhos tentam ajudar, mas é pior ainda, pois fazem tudo errado.
    Realmente, não faltam motivos para elas se sentirem sobrecarregadas. “É muito mais fácil para um chefe compreender que a mãe saia do trabalho para levar um filho doente ao médico. Não se mudam os hábitos, costumes, moral e ética de uma sociedade tão rápido”, explica a terapeuta de casais Teresa Bonumá, que há mais de 30 anos convive com as muitas nuances do convívio familiar.
    Mas a situação é menos desanimadora do que parece. E temos uma justificativa científica para afirmar isso: a pesquisadora britânica Laura King revisou estudos e chegou a uma teoria que a figura do pai moderno, que cuida e participa da vida dos filhos, existe há bem mais tempo do que se imagina. Ela defende que isso começou por volta dos anos 1950, após a Segunda Guerra Mundial. Agora, uma coisa é verdade: eles realmente demoraram para sujar as mãos com fraldas. Em 1980, 43% dos pais britânicos nunca haviam trocado seus filhos. Esse número caiu para 3% no ano 2000. E Laura cita um dado de 2010 que aponta que, para 65% das mulheres, os pais são de enorme importância no cuidado com as crianças.
    Para que não só o número de trocadores de fraldas, mas de pais e mães parceiros e satisfeitos com seus acordos, fique cada vez maior, conversamos com especialistas e casais bem-resolvidos e selecionamos as dicas deles para tornar a divisão mais balanceada na sua família. Leia a seguir:
    1. Mais braços
    Livrem-se de algumas tarefas sempre que puderem. Considerem pagar por serviços que vocês não dão conta ou que são um aborrecimento e podem ser feitos por outras pessoas. Desde uma faxineira para arrumar a casa, alguém para passar a roupa (ou mandar lavar fora) até comprar a comida pronta. A secretária Luciana Trafani Gomes e seu marido, o ator André Mello, pais de Arthur, 1 ano e 9 meses, têm uma rotina diferente da maioria dos casais, pois é ele que tem os horários flexíveis e fica mais tempo em casa durante a semana. “O André até faz mais coisas do que eu. Às vezes me sinto mal por isso, pois cresci vendo minha mãe fazer tudo para o meu pai”, diz. Mas ela logo repensa e vê que eles estão bem resolvidos dessa forma. Mesmo assim, quando voltou a trabalhar, há quatro meses, era ela que cuidava da comida do filho quando chegava em casa, às 20 horas. “Entre ficar com ele um pouco e depois ir para a cozinha preparar as refeições do dia seguinte, eu acabava indo dormir à 1 hora da manhã, exausta. Fui ficando irritada com o André e o Arthur. Então, decidi comprar papinha caseira congelada, que resolveu nossa vida.”
    2. Keep Calm and... pare com o “mimimi”
    Reclamar que só você faz tudo em casa e que detesta o serviço doméstico não adianta. E vamos explicar o motivo com uma leve viagem no tempo. Estamos nos anos 1960, época do seriado norte-americano Mad Men. Os maridos, engravatados, de chapéu e sobretudo, pegam suas pastas e saem para um glamuroso dia de trabalho, cheio de risadas e almoços em endereços chiques. Em casa, as esposas estão extenuadas às voltas com mil tarefas, como faxinar, atender o filho que chora, lavar a roupa, deixar a comida pronta. De qual lado você gostaria de estar?
    Com uma descrição como essa, a resposta é evidente. “Claro que, no passado, as mulheres achavam que a vida dos homens era muito mais divertida – e elas não paravam de reclamar sobre quanto suas rotinas eram ruins. A verdade é que erramos muito no marketing! E vamos combinar que nem o trabalho fora é tão cheio de glamour nem todas as tarefas domésticas são tão chatas quanto dizem”, comenta a psicóloga Lídia Aratangy, autora de livros como Novos Desafios da Convivência: Desatando os Nós da Trama Familiar (Ed. Rideel). Então, se quiser ter mais chances na hora de negociar a divisão, experimente parar de falar quanto lavar a louça é chato. A mudança não vai acontecer de uma hora para outra, mas já é um começo.
    3. Nova família, novas regras
    “Quando vamos viver juntos, unimos duas pessoas que cresceram em famílias diferentes – e é preciso compreender que isso exige adaptações. Pode ser que o pai do parceiro não fizesse nada em casa e foi esse o modelo que ele teve”, explica o psicoterapeuta Luiz Cushnir, autor de, entre outros títulos, Como Mulheres Poderosas se Tornam Mulheres Conquistadoras (Ed. Planeta). Sim, é preciso respeitar as experiências de cada um, mas elas não devem servir de desculpa para não se fazer nada. Aconteceu com a designer Luciana Gianesi Diegues, que já morava sozinha quando se casou com o economista Guilherme, que morava com os pais e tinha sempre alguém para arrumar as coisas por ele. “Expliquei que, se ele tirasse tênis e deixasse na sala, o par não iria magicamente para o lugar. Ficaria lá para sempre”, conta. Ela diz que o processo foi bem natural e, hoje, com Bruna, 10 meses, eles dividem tudo: desde dar banho na menina até levar a cachorra Zara para passear e lavar a louça das refeições.
    4. Com palavras e paciência
    Para equilibrar a balança da divisão de tarefas na sua casa, a melhor saída é conversar. Quando a nutricionista Camila Andrade e o ortopedista Paulo Miziara tiveram a primeira filha, Laura, hoje com 4 anos, ele ainda estava fazendo residência médica e não ajudava em praticamente nada. “Entendo que sobrava pouco tempo para ele, mas também acho que faltava sensibilidade para perceber que eu precisava de ajuda”, diz Camila. Ela conversou uma, duas, muitas vezes, para expor suas insatisfações e necessidades. Hoje, com o nascimento da segunda filha, Sofia, de 4 meses, ela diz que se surpreendeu com a mudança. “Ele cuida da mais velha, pois sabe que preciso me dedicar à bebê. Dá banho, jantar, brinca, põe para dormir. Valeu a pena toda a conversa, pois nós dois amadurecemos e achamos um jeito melhor.”
    5. Segure a onda quando os filhos chegarem
    Não tem jeito: com a chegada dos filhos, a rotina da casa costuma dar uma desestabilizada, mesmo se vocês tiverem um esquema que costumava funcionar superbem. Além de mais tarefas e de, no início, o bebê depender muito da mãe, como na amamentação, vários tratos que antes estavam resolvidos e estabelecidos para vocês talvez precisem mudar. “Quando são só os dois, eles têm liberdade de decidir se vão arrumar a cama todo dia ou não, se vão lavar a louça ou não, se vai ter comida em casa ou se vão sair para comer fora todos os dias... Depois isso não é mais possível, pois um filho precisa dos pais como modelo de educação”, diz a terapeuta Teresa Bonumá. Então, se a coisa apertar, vale reorganizar o dia a dia até entrar em equilíbrio de novo. Quando Julia, 4 anos, nasceu, era praticamente só a mãe, a bancária Raquel Debiazzi Mainardes, que cuidava dela. “Embora a gente sempre tenha se dividido bem em casa, acabei assumindo tudo que era da Julia e, quando engravidei da Fernanda, isso pesou.” A filha caçula dela e de Marcos, também bancário, está hoje com 2 anos. Na reorganização, o pai ficou responsável pela maior parte dos cuidados com a mais velha e eles se dividem no esquema de revezamento: em um fim de semana um fica no parque brincando enquanto o outro vai às compras. Está dando bem certo.
    6. Questão de habilidade
    Na hora de dividir, tente ver o que cada um prefere fazer. Se você gosta de cozinhar, mas odeia passar roupa e ele não se incomoda com essa tarefa, vocês têm um ponto a menos para entrar em conflito. É assim na casa dos zootecnólogos Camila e Marcos Tse, pais de Lucas, 2 anos, e grávidos de 32 semanas de uma menina. “Ele não gosta de fazer as tarefas da escola, pois envolvem muito artesanato e habilidades manuais. Eu já curto bastante. Mas nem sei que dia vencem as contas da casa, porque confesso que é ele que cuida de tudo.”
    7. O jeito certo
    De um lado, as mulheres reclamam que os homens não fazem o serviço direito. Do outro, os homens desistem de fazer a parte deles – afinal, nunca vai estar bom. “Muitas mulheres querem um ajudante qualificado que execute as tarefas que ela quer, na hora que quer”, diz Lídia Arantangy. Para conciliar esse problema, os dois lados têm que ceder. As mães, entendendo que o parceiro fará as coisas de um modo diferente, e os pais, encaixando na sua rotina as tarefas de casa e percebendo que eles não “ajudam” as esposas. Quem ajuda supõe que está fazendo um favor e não é o caso. As responsabilidades são dos dois e algumas coisas precisam ser feitas com horário. Afinal, criança precisa de rotina tanto quanto um bebê.
    8. Brincadeira de criança
    Conte com seus filhos para as tarefas do lar. Ou você quer que os parceiros deles fiquem reclamando que não fazem nada em casa quando crescerem? Vá estabelecendo responsabilidades conforme a idade, mas nunca o sexo. Menino e menina podem guardar os brinquedos e levar a roupa suja para a lavanderia já com 2 ou 3 anos. Aos 4, podem ajudar a tirar o pó da sala, dar comida para bichos de estimação e colocar os talheres na mesa. A partir dos 6, já são responsáveis por arrumar a cama e colocar toda a mesa.
      Raoni Maddalena
    Enquanto André troca a fralda de Arthur, Luciana lê para o pequeno

    As tarefas são bem divididas na sua casa? Faça nosso teste

    Consumo na medida



    Don Smith/gettyimages
    O publicitário Daniel Rimoli e a analista de sistemas Ana Beatriz conseguiram limitar o acesso da filha Cecília à televisão até os 3 anos da garota. Depois, o casal se separou e o aparelho virou babá eletrônica sempre que necessário. Hoje, aos 7, a menina quer comprar tudo. Do ponto de vista profissional, Daniel critica uma proibição total da propaganda destinada às crianças. Mas, como pai que cuida de Cecília nos fins de semana e vê o excesso de comerciais criados para seduzi-la, ele gostaria que algo fosse feito. “Não tenho dúvida de que há um exagero. Acredito que seria bom determinar uma quantidade e uma frequência de publicidade, sobretudo nos canais para crianças”, sugere.
    A percepção de que tem propaganda demais na TV e de que isso dá um trabalho extra aos pais na hora de educar os filhos – pelo menos se levarmos em consideração que os das gerações anteriores não tinham esse dilema tão presente – está no livro recém-lançado A Criança e o Marketing (Summus Editorial), da psicóloga Ana Maria Dias da Silva e da especialista em comunicação Luciene Ricciotti Vasconcelos. Nele, as autoras procuram explicar os mecanismos do marketing e ajudar os pais a lidarem com os pedidos das crianças, mas sempre puxando pelo exemplo deles. “Qual de nós nunca levou pra casa algo que não estava pensando em comprar pois não resistiu à tentação dos brindes ou descontos?”, diz um trecho do título. Imagine o que sente um pequeno ao ver seus personagens e heróis favoritos dizendo quanto aquele produto é legal. Fica difícil resistir... E aí, cabe aos pais explicar que o filho pode desejar algo que assistiu na televisão, mas que, muitas vezes, não vai ter. Ou por não ser prioridade, ou por ser caro, ou por não precisar.
    A verdade é que esse dilema vivido pelos pais de Cecília está no centro de um acalorado debate. O Instituto Alana, organização não governamental voltada para a proteção à infância, luta para que seja proibida qualquer publicidade para crianças menores de 12 anos – medida adotada na Noruega. Já a Associação Brasileira de Agências de Publicidade (Abap) discorda, claro! Para ela, a proibição pura e simples não é o melhor caminho, pois é impossível colocar as crianças em uma redoma. E a entidade defende sua opinião com convicção. Em março, lançou a campanha Somos Todos Responsáveis, em que preserva o direito de fazer propaganda para o público infantil por meio da imagem de personalidades conhecidas do mundo das crianças, como a dupla de palhaços Patati e Patatá. O cartunista Maurício de Sousa, o pai da Turma da Mônica e de dez filhos, é outro protagonista dessa bandeira. Ele afirma que, se ocorresse esse tipo de proibição, haveria uma “turminha de zumbis” incapazes de pensar ou avaliar qualquer coisa.
    Os dois lados
    Na visão de Luiz Lara, presidente da Abap, a propaganda brasileira nem sempre foi a vilã – inclusive já contribuiu para disseminar hábitos saudáveis no público infantil, como escovar os dentes. “Não concordo com a proposta de proibir a liberdade de expressão comercial. Isso é pavimentar o caminho da censura para outros elementos importantes, como a imprensa. A publicidade é o instrumento que garante aos veículos de comunicação sua independência editorial.” Ele se refere ao fato de que os anunciantes pagam por espaços específicos em vez de atrelar patrocínio a reportagens favoráveis a seus produtos.
    A coordenadora de mobilização do Instituto Alana, Gabriela Vuolo, refuta o argumento da censura. “A publicidade é feita para vender e não pode, nem deve, gozar do mesmo privilégio da liberdade de opinião. Temos que pensar em proteger a infância do bombardeio comercial com interesse de venda.” Gabriela afirma que a campanha da Abap até o momento tem atribuído somente aos pais a responsabilidade por desligar a TV. Para o Alana, que não nega a influência central da família, o meio publicitário também precisa fazer a sua parte. “A televisão passa o dia inteiro incentivando o consumismo e cabe aos pais, nas duas horas em que estarão com o filho, dizer não?”
    Moeda de troca
    Não é uma cena incomum um filho chantagear os pais e chorar até conseguir o que quer. Segundo uma pesquisa feita pelo instituto Interscience em 2003, as crianças participam de 80% das decisões de compras da casa. Para evitar esse tipo de situação, a gerente administrativa Heloísa Blanco Velasco, 37 anos, vigia o que os filhos Henrique, 9, e Paola, 7, veem na televisão e troca de canal para evitar os comerciais. Por outro lado, ela acredita que o que mais funciona é a maneira como os pais agem diante dos próprios desejos de consumo. “Se os pais forem do tipo que compram tudo o que querem, as crianças não vão precisar da TV para despertar seu lado consumista.”
    Além da discussão entre entidades e dentro de cada casa, diversas leis sobre a propaganda infantil estão sendo discutidas no Congresso Nacional e também em alguns estados. Por enquanto, não há nenhum tipo de regulamentação no Brasil, nem quanto à quantidade de comerciais por período, nem restrições de qualquer natureza. Mas já existem propostas. Na Câmara dos Deputados, o projeto de lei 5.921, de 2001, prevê a proibição total de propaganda para o público infantil. Já no Senado, o PL 150, de 2009, estabelece regras para a propaganda de alimentos voltados para as crianças, como bolachas e refrigerantes, que não poderiam mais trazer artistas ou personagens ligados ao público infantil, além de propor mudanças nas embalagens. Para Edgard Rebouças, coordenador do Observatório da Mídia Regional da Universidade Federal do Espírito Santo, esse debate precisa ser levado adiante. “A publicidade cada vez mais quer vender ideais de vida, o que dificulta o papel dos pais na hora de educar”, diz.
    Em parceria com o Instituto Alana, o observatório vai mapear pelos próximos cinco anos a quantidade de publicidade no Dia das Crianças, na Páscoa e no Natal. Para se ter uma ideia, no último Natal, um monitoramento de 15 emissoras abertas e fechadas apontou que 37,3% das propagandas foram de brinquedos – e a grande maioria deles custava entre R$ 51 e R$ 200. Para Edgard, esse dado já era esperado. O que mais preocupou o especialista foi notar que anúncios de alimentos – e a maioria deles nada saudável – estão em segundo lugar no ranking.
    Para o psicólogo Pedrinho Guareschi, professor de psicologia social da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, a grande discussão é saber a partir de que idade a criança entende que o objetivo da inserção comercial é vender um produto. “Uma criança de 6 a 8 anos não tem nível de consciência suficiente para praticar ações independentes e livres e precisa da orientação dos pais”, explica Guareschi, que coordena o grupo de pesquisa Mídia Televisiva no Brasil. As menores então, têm menos discernimento ainda. Segundo o psicólogo, essa independência só vai surgir quando ela for capaz de perguntar para que servem as coisas e refletir sobre as respostas, o que varia de acordo com a maturidade. Por isso o debate sobre a proibição das propagandas envolve tanto a questão da idade.
    Luiz Lara, da Abap, entende que o Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar), ao lado da Constituição Federal e do Código de Defesa do Consumidor, são os instrumentos legítimos para a proteção das crianças. Para o Instituto Alana, a autorregulamentação não funciona porque é lenta e, muitas vezes, quando um caso é julgado pelo Conar, a propaganda já saiu do ar. As próprias agências de publicidade já se programam para trabalhar com essa hipótese.
    Enquanto profissionais de marketing, entidades e políticos não chegam a um acordo ou conclusão, cabe mesmo aos pais definir como agir em casa. E um bom começo é saber a que seu filho está sendo exposto, separando um tempo para ver TV ao lado dele e conversando sobre o que assistiram juntos. A dica serve tanto para os mais velhos quanto para os menores, pois vai ajudar a criança a pensar de forma crítica nas informações que recebe.
    Restrições em outros países
    Saiba o que é proibido para publicidade infantil ao redor do mundo
    INGLATERRA
    Uso de efeitos especiais, cortes rápidos e ângulos diferentes nos comerciais que confundam a criança. 
    Publicidade voltada para menores de 16 anos de alimentos com alto teor de gordura, sal e açúcar.
    ESTADOS UNIDOS
    Mais que 10 minutos e 30 segundos de inserções a cada hora de programação, aos sábados e domingos, e 12 minutos, nos dias da semana. 
    Comerciais de sites na programação de TV direcionados a menores de 12 anos.
    CANADÁ
    Uso de pessoas ou personagens conhecidos pelas crianças nas inserções comerciais. 
    Limite de quatro minutos de publicidade a cada meia hora de programação infantil. 
    Propaganda de produtos não voltados a crianças nos programas infantis.
    SUÉCIA
    Comerciais para crianças menores de 12 anos antes das 21 horas. 
    Usar personagens em comerciais de TV.
    NORUEGA
    Publicidade de produtos e serviços direcionados a crianças menores de 12 anos. 
    Inserções comerciais durante os programas infantis.
    IRLANDA
    Qualquer publicidade durante programas infantis em TV aberta.

    Como controlar o excesso de publicidade da TV para o seu filho?


      shutterstock













    - Em primeiro lugar, é necessário que todos repensemos nossos hábitos com relação ao consumo da programação de TV. 
    Somos exemplo constante. Se você deixa de ir a algum passeio ou sai cedo de festas e de reuniões para assistir à novela, lembre-se de que ficará gravado na mente da criança que assistir TV é mais importante que muita coisa. A criança passará, então, a dar à televisão grande importância, e com o decorrer do tempo ficará cada vez mais difícil argumentar que é mais importante fazer a lição, estudar ou ir ao aniversário da avó do que assistir ao novo episódio da série predileta de seu filho. 

    - Havendo, então, um único aparelho na casa, não reduza o tempo de TV de seus filhos para que você tenha mais tempo para assistir aos seus programas prediletos. Eles perceberão isso. E essa questão virará disputa pela telinha. Diminua o tempo diante da TV optando por jogos de tabuleiro, conversas, histórias, livros etc. Isso fará um bem imenso ao convívio da família. Se isso fizer parte de um acordo entre todos da casa, será mais divertido e saudável. 

    - Estimule seu filho e habitue-o a se distrair com outras atividades logo após o desenho favorito, como fazer esportes, brincar ou ouvir música. Ou seja, desligue a televisão quando a programação combinada chegar ao fim. 

    - Reserve um tempo para ver TV junto com a criança. Aproveite esse tempo para comentar os comerciais e a intenção deles, sempre de acordo com a idade do seu filho. No caso de crianças de até 4 anos, destaque o que está sendo oferecido realmente: a boneca, o sapato, o produto em si. Tire o clima. Com as crianças maiores já é possível argumentar, levando-as a fazer associações por meio de perguntas: “Você acha que se usar essa sandália vai correr mais rápido, só por causa de um desenho?” 

    - Evite chegar em casa e ligar a TV imediatamente (mostre que há coisas no dia a dia, dentro de casa, mais importantes que ver televisão). 

    - Se você tem babá, proíba-a de ver TV com seu filho fora dos horários combinados e da programação escolhida. Novela não é programa de criança. 

    - Durante as refeições, a TV deve ficar desligada. A criança precisa ver o que come para perceber quando está satisfeita; do contrário, acabará comendo mais do que precisa, o que poderá favorecer a obesidade. Além disso, a hora da refeição é um excelente momento de ensinar hábitos alimentares saudáveis, mostrar como se portar à mesa (não ao sofá ou à cama) ou gerenciar conflitos entre irmãos. 

    *trechos extraídos do livro A Criança e o Marketing, de Ana Maria Dias da Silva e Luciene Ricciotti Vasconcelos (Summus Editorial)

    Um filme para você esperar


    É a final de um daqueles reality shows em que famosos aprendem a dançar. Na disputa está Jules (Cameron Diaz), uma personal trainer e apresentadora de TV que está gravida, mas os fãs ainda não sabem. Ou não sabiam. Bem na hora em que é anunciada como vencedora, bate aquele enjoo na moça e o troféu que ela estava segurando acaba servindo para uma finalidade bem diferente – afinal, você sabe bem que enjoo de grávida não tem muita hora para acontecer nem respeita qualquer formalidade...
    Assim começa o filme O Que Esperar Quando Você Está Esperando, comédia romântica com estreia prevista no Brasil para 3 de agosto e que tem no elenco, além de Cameron Diaz, o brasileiro Rodrigo Santoro, Jennifer Lopez, Matthew Morisson e Chris Rock. E se você logo associou o nome do filme àquele best-seller que muito provavelmente ficou na sua cabeceira durante a gravidez, acertou. A diferença é que o longa-metragem não é um manual dos nove meses. O que você vai ver é a história de diversos casais com seus dilemas, dificuldades e situações emocionantes ou hilárias que envolvem a transformação em pai e mãe.
    É a mulher que finalmente se vê grávida e percebe que idealizava demais esse momento, aquela que passa por todos os enjoos e desconfortos, a que segue a vida quase sem perceber a gestação, a que tem parto normal e tranquilo, a que precisa de uma cesárea na última hora, a que sofre um aborto espontâneo e acha que a culpa pode ser dela, a dupla que não pode engravidar e decide adotar, o homem que tem medo de ter filhos, os pais que não participam e aqueles que participam até mais do que as mães. Todas as situações do livro – e mais algumas – estão lá, de um jeito leve e bem humorado, típico das comédias românticas. Em maio, CRESCER foi a Hollywood, viu o filme em primeiríssima mão e percebeu que todo o elenco se pegou pensando nos filhos ou no que esperam sentir quando estiverem, de fato, esperando.
    Começando pelo representante do Brasil: Rodrigo Santoro (Alex), par de Jennifer Lopez (Holly) e que, na comédia, está bastante receoso em ter um bebê, não vê nenhum problema em trocar fraldas. “Por que eu não faria isso? É meu filho!”, contou ele, que interpreta pela primeira vez um pai – ou melhor, um homem morrendo de medo dessa transformação em sua vida, mas que é constantemente incentivado por um grupo de pais descolados do qual faz parte o comediante Chris Rock (Vic) e que se encontra sempre no parque para passear com as crianças. Na vida real, Santoro disse que ainda não teve oportunidade de testar seus dons com as fraldas, mas que quer ter um bebê um dia, sim. Para dar um incentivo, a gente entregou para ele uma edição da CRESCER, claro!
    Ah, e um detalhe mais apimentado: se você ouvir por aí algum boato de que Santoro não desgrudava da J-Lo no set de filmagens, pode acreditar. Ela mesma disse isso e o diretor Kirk Jones (de Nanny McPhee – A Babá Encantada) confirmou para a CRESCER. “Eles tinham muita química. Demais, até. O Rodrigo queria beijá-la em todas as cenas.”
    Se seu par romântico nunca trocou uma fralda, J-Lo, que na vida real é mãe dos gêmeos Max e Emme, 4 anos, sabe muito bem o que é isso. Ela conhecia de trás para frente o livro que inspirou o filme. “Descobri que estava com o baby blues depois de ler a explicação nele”, contou a atriz e cantora sobre sua tristeza no pós-parto. Outro velho conhecido do livro é Ben Falcone, que é casado com Melissa McCarthy (a Molly, do seriado Mike & Molly), pai de duas meninas e interpreta Gary nas telas. “Até tenho um exemplar no escritório!” O ator assumiu achar difícil organizar a rotina para pelo menos um adulto estar em casa enquanto o outro filma. “Sorte que meus pais e sogros moram perto.” Viu? Astros de Hollywood também apelam para os avós!
    Mas quem parece ter vivido uma experiência fantástica foi Cameron Diaz, que encontrou a chance de se ver grávida! Par romântico de Matthew Morrison (Evan), o professor Will Schuester do seriado Glee, a atriz, que desfilava de barrigão à mostra, usava próteses de borracha nos seios e abdômen que levavam cerca de uma hora para ser coladas e pintadas. Tudo pesava três quilos. “Era um bebê de verdade. Só que fora do meu corpo!”, disse. Cameron completa 40 anos no fim de agosto e aparenta estar tranquila sobre a maternidade. “Sou cercada de crianças, sobrinhos, bebês de amigos, e vou ficar muito feliz se tiver um filho, seja meu, seja da pessoa com quem eu estiver me relacionando, seja adotado.” Se a vida imitar a ficção, dá para garantir que ela será uma grávida bem divertida!
    * Cíntia Marcucci viajou a convite da Paramount
       Divulgação
    À esquerda, Holly (Jennifer Lopez) e Alex (Rodrigo Santoro) falam sobre as possibilidades de se tornarem pais. Acima, Wendy (Elizabeth Banks) e Skyler (Brooklyn Decker), duas mulheres com gestações bem diferentes
    A mãe de o que esperar quando você está esperando
    Heidi Murkoff, uma das autoras do livro, conversou com exclusividade com a CRESCER
    CRESCER: Como é ver seu livro na tela?
    Heidi Murkoff: É muito gostoso. Sei que muitas pessoas se perguntam como o livro pôde ser adaptado para o cinema. Mas na gravidez vivemos uma montanha-russa de emoções, sintomas esquisitos e situações interessantes que ficam mesmo divertidos encaixados nas histórias dos personagens.
    C.: Os pais do filme são todos muito bacanas, não?
    H.M.: Sim! E o mais legal é que o grupo de pais que se encontra no parque existe na vida real. Não exatamente daquele jeito, nem todos usam sling, mas esses pais participativos existem, sim.
    C.: O livro já tem quase 30 anos. O que você acha que mudou com relação à gravidez de lá para cá?
    H.M.: Escrevi o livro porque, quando engravidei, tinha muitas dúvidas. Hoje as mulheres conversam, compartilham as experiências na internet, comemoram a gestação e ninguém tem mais vergonha de mostrar a barriga. Isso é muito positivo.
    C.: E qual é sua cena favorita do filme?
    H.M.: Ah, muito difícil responder isso! Não posso escolher entre meus filhos ou a parte que mais gosto deles, né? Não se pergunta isso a uma mãe. (risos)