“Tomei anestesia geral no parto”



 Arquivo pessoal
Em 2009, engravidei pela primeira vez. Em um ano e meio, perdi quatro bebês. Conceber nunca foi o problema, pois eu engravidava com um “espirro”, como dizia meu médico. A questão era manter a gestação. Decidi, então, buscar ajuda com especialistas em fertilidade no Rio de Janeiro. Não podia aceitar a possibilidade de perder mais um filho.
Finalmente, fui diagnosticada com trombofilia, uma alteração no sistema de coagulação que interfere no funcionamento da placenta. Fiquei assustada, mas aliviada por terem descoberto a causa dos abortos. Depois de conversar com vários médicos, ficou decidido que eu seria medicada com heparina e ácido acetilsalicílico (dois anticoagulantes) na gestação seguinte. Também tive de tomar a vacina ILP (injeção de linfócitos paternos), que evita que o organismo da mãe “ataque” o feto ao reconhecer as células estranhas que ele traz do lado paterno. A proteção já existe normalmente no organismo da mãe, mas se a gestante sofrer abortos de repetição, há suspeita de alguma falha.
No final de 2010, recomeçaram as tentativas para engravidar. Dessa vez, não foi de primeira. Mas não fiquei triste. Para mim era um sinal de que algo diferente ia acontecer. A boa notícia veio em dezembro. Eu já conhecia de cor todos os sintomas e o teste confirmou: eu estava grávida.
Com a heparina, minha gravidez estava perfeita e a Clara se desenvolvia muito bem. Ainda assim, minha obstetra e o anestesista acharam que era mais seguro optar pela cesárea. A cirurgia estava agendada para o dia 22 de agosto, quando eu completaria 38 semanas. Por recomendação médica, na 36a, suspendi o uso do AAS, cujo efeito dura uma semana. Já a heparina poderia ser interrompida 12 horas antes do parto. Do contrário, os anticoagulantes ofereceriam risco de hemorragia no parto.
No dia 15, saí do trabalho e fui a uma consulta. Estava tudo bem. Tinha reservado a semana seguinte para aproveitar os últimos dias sem um bebê. Marquei horário no salão de beleza, planejei visitar creches, coisas assim. No dia seguinte, porém, acordei às seis horas com uma sensação diferente. Havia um pouco de sangue e líquido na calcinha. Liguei para a médica, mas pensei que ela só iria pedir para eu ficar de repouso. Quando atendeu, entretanto, me mandou correr para a maternidade, porque provavelmente a bolsa tinha rompido. Não estávamos preparados, ligamos correndo para as avós. A mala da maternidade ainda estava na lavanderia!
Quando cheguei ao hospital, lembrei que seis horas antes eu tinha tomado a heparina. Ao conversar com a equipe médica, o anestesista me explicou que se me desse a peridural havia risco de lesão na medula. A solução era a anestesia geral, que é aplicada em outra região. Quando ouvi isso, chorei muito. Mas confiava nos médicos. Por isso, logo me conformei. Afinal, seria o único jeito de a minha filha vir ao mundo com segurança. Reforçamos a equipe de foto e filmagem, para que depois eu pudesse acompanhar o nascimento nos mínimos detalhes.
O parto foi rápido. Em 15 minutos, já haviam retirado a bebê. Isso foi necessário para evitar o contato dela com a medicação. Meu marido esteve ao meu lado o tempo todo e até cortou o cordão umbilical. Clara nasceu às 11h24, saudável, e só fui vê-la uma hora depois. Mas aí não contive a emoção, foi aquela choradeira...
Anestesia no parto
Há três tipos de anestesia que a mulher pode tomar. Cada uma é adequada para um tipo de situação. Entenda.
 Peridural A agulha é aplicada na região lombar e fica ligada a um cateter por onde entra o anestésico. Tira a sensibilidade, mas não os movimentos. É comum em partos normais.
Raquidiana A agulha vai mais fundo do que a peridural, chegando à região do liquor. A aplicação é única e tem efeito imediato. A mulher perde totalmente a sensibilidade da cintura para baixo. A raqui (como é chamada) é a anestesia mais aplicada em cesarianas.
Geral É reservada a casos graves, como mães com problema cardíaco, eclâmpsia ou risco de hemorragia. Dá aos médicos mais controle sobre o estado da paciente. Se o parto for rápido, a anestesia nem chega ao bebê.
Fonte: Oscar César Pires, diretor do Departamento Científico da Sociedade Brasileira de Anestesia (SBA)
 Arquivo pessoal
O parto de Clara (acima) foi filmado e fotografado por profissionais: a mãe não queria perder nenhum detalhe