Amor de bicho



  Raoni Maddalena
Em casa é uma cumplicidade só: mãe e filha se esbaldam com o carinhoso labrador Mauí, que se mostra sempre um fiel companheiro
Não seria exagero dizer que a fotógrafa Paola Nazarro treinou a maternidade antes de ter sua primeira filha, Maria Luiza, a Malu, 2. Ela cuidou de Mauí, um labrador de 10 anos e cor chocolate, como se fosse um filho desde que ele tinha 3 meses. E quem vê a família reunida percebe de cara que ele é, sim, o irmão mais velho de Malu, como a própria Paola gosta de dizer. A relação dos dois começou cedo, ainda na gravidez. Paola o envolveu nos preparativos, antes do parto e até durante a licença-maternidade, Mauí foi o companheiro das duas nos passeios e nas sonecas da tarde, que se tornavam frequentes com o cansaço dos últimos meses de gestação. A parceria passou de mãe para filha e hoje Malu e Mauí não se desgrudam. Brincam o tempo todo, assistem a filmes juntos e adoram passear na praça. No último mês, ele passou alguns dias no sítio da família, já que mora em apartamento e merecia umas férias para correr ao ar livre. Malu sentiu falta. “Ela me perguntava o tempo todo onde ele estava, se estava bem e se já teria voltado quando ela chegasse em casa”, conta. Afinal, quem aguenta passar tanto tempo longe de um irmão?
Imagine que, quando Paola engravidou, os amigos começaram a perguntar o que ela faria com o cachorro, agora que teria um filho. “Eu não entendia isso. Como assim o que eu vou fazer com ele? Não é um vaso que eu posso simplesmente jogar fora”, lembra, indignada. Porém, aos sete meses, quando parou de trabalhar como produtora, ela começou a ficar insegura com tanto questionamento e decidiu procurar informação e orientação de especialistas. Os veterinários disseram que a melhor maneira de aproximar o cachorro e a criança era fazer com que ele participasse de tudo, o que já acontecia desde o começo da gravidez. Paola levou a dica bem a sério. “Ele ia comigo ver enxoval para a Malu, mesmo que ficasse no carro. E eu passeei muito com ele nos últimos meses em que fiquei em casa. No fim da tarde, quando batia aquela canseira, nós tirávamos até uma soneca juntos.” A dona apostava também, veja, no bate-papo. Contava que estava grávida, que logo teriam um bebê em casa e que os dois seriam muito parceiros. “Eu não acho que o cachorro entenda as palavras, mas ele sente a energia e sabe que está acontecendo algo importante.” Um dos especialistas que consultou disse que o cachorro conseguia ouvir o coração do bebê e isso a deixou ainda mais otimista. “Assim me dei conta de que ele estava realmente participando de tudo desde o começo. Me comoveu demais.”
  Raoni Maddalena
Malu, no auge de seus 2 anos, abusa da paciência de seu cão que, claro, nunca reclama
À primeira vista
O primeiro encontro entre Mauí e Malu também foi emocionante e até hoje deixa os olhos da mãe marejados. Seguindo outra dica de um veterinário, Paola levou uma fraldinha para a maternidade, que seria entregue ao cachorro quando eles voltassem para casa com o bebê. Assim, ele encararia Malu como um novo membro da matilha e não como invasora. Foi na garagem que os dois se conheceram. “Eu fiquei no carro enquanto meu marido subiu para pegar o Mauí. Quando eles desceram, a gente apresentou os dois. E foi demais! Ele foi curioso, atencioso e cuidadoso. Cheirou a Malu e tentou cheirar o rostinho dela, mas a gente não deixou e disse: ‘Calma, ela é neném’. Essa é a frase que funciona até hoje quando ele começa a ficar muito elétrico perto dela.”
O jeito estabanado e os 43 kg do labrador – que conferiram a ele o apelido carinhoso de “Gordo” – deixaram Paola preocupada. E se ele sentasse em cima da filha? A tal frase “Calma, ela é neném”, foi repetida muitas e muitas vezes e garantiu uma relação mais tranquila entre os dois. E não demorou muito para que Mauí acolhesse a “irmã” mais nova: quando ela tinha cerca de 1 mês, ele começou a dormir embaixo de seu berço. E, claro, as críticas voltaram, ainda mais quando, depois de um tempo, Malu apresentou sintomas de alergia – e todos pensavam que eram os pelos do cachorro. “Fizemos uma série de exames e descobrimos que era a alimentação. Ela é alérgica a tudo que tem coloração vermelha. Ou seja, não tinha nada a ver.” Mesmo assim, os cuidados com a higiene foram redobrados e a casa passou a ser varrida e limpa com um pano úmido de uma a duas vezes por dia.
Seguindo os passos da mãe, Malu é totalmente apaixonada pelo irmão-cachorro. Deita em cima dele o tempo todo, traduz seus latidos (como se entendesse o que ele fala) e o serve de comida todas as manhãs. “Desde que começou a andar ela pega o pratinho, vai comigo até onde fica a ração e coloca no pote dele. Depois, pega bolinha por bolinha e dá na boca dele. E ele adora, fica sentadinho esperando”, conta Paola, orgulhosa do carinho que um tem pelo outro. A prova de que Malu é parte da matilha aparece no dia a dia. Além de tudo que fazem juntos, Mauí desenvolveu um instinto protetor. Nos primeiros passeios a três, Paola percebeu que ele rosnava sempre que outro cachorro chegava perto do carrinho de bebê. “Eu sabia que a relação deles seria boa, por eu ser tão ‘cachorreira’. Mas não imaginava que seria tão deliciosa!” As manhãs de sábado e domingo são reservadas para um programa especial em família: café da manhã na padaria. Até Mauí ganha um pedacinho de pão enquanto todos comem juntos. “Assim como quem tem dois filhos vai ao teatro, ao cinema, a gente vai à padaria com os nossos filhos. Depois damos uma passadinha em uma praça que fica ao lado, para eles brincarem. Aí voltamos para casa.” E a matilha pode aumentar em breve. Embora ainda não esteja tentando, Paola pensa em ter mais filhos. Mauí vai ter que dividir a irmã com novos irmãos. Como será que ele vai se sair?
Saiba como conciliar cachorro e filhos sem estresse com as dicas da Paola
Organize-se. “Você precisa montar uma operação. Tem de se informar, correr atrás e manter um esquema de passeios, ainda mais se o cachorro for grande. O Mauí passeia três vezes por dia e tem o acompanhamento de um adestrador. Cachorros ficam estressados dentro de casa.”
Todos da família precisam se educar e entender as limitações do cachorro e da criança. “Quando a Malu era menor, ela ficava na cadeirinha e algumas vezes ele abanou o rabo e bateu no rosto dela. Mas eu nunca briguei por causa disso, porque ele não iria entender. O que eu fazia era colocar a cadeirinha dela em outro lugar.”
Invista na convivência. “Outro dia estávamos fazendo um churrasco em casa e Malu foi dormir. Mauí também tirou um cochilo na sala. Quando acordou, foi no quarto chamá-la. De repente os dois chegaram juntos até nós e ela disse: ‘O Godo me acordou!’. É uma relação que eles têm.”

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