Nome próprio



Ilustração Alan Leitão
Todos os anos nascem 3 milhões de bebês no Brasil. Aproximadamente 49% deles são do sexo feminino. Mas só um vai se chamar Alícia. Bom, talvez dois. Ou três... ou centenas. Ainda assim, quando o agente de aeroporto José Moreira, de Itabuna (BA), soube que um casal de amigos próximos teve a ideia de batizar a filha com o nome que ele e a esposa, Gisele Tabosa, haviam escolhido anos antes, ficou muito chateado. “Será mesmo que foi coincidência?”, questiona, pois todos já sabiam da intenção de José e Gisele. Os dois cogitaram até mudar a decisão. Mas o desejo antigo, que era homenagear uma das bisavós maternas da criança, prevaleceu. A Alícia de José e de Gisele nasce daqui a três meses. E ponto final.
A escolha do nome de um bebê é cheia de significados. Ela traz os gostos, a história e a expectativa dos pais, além de marcar o princípio do vínculo com aquela criança que está para nascer. “O filho começa a existir de verdade para a família no momento que recebe um nome”, afirma a psicóloga Inúbia Duarte, do Instituto de Ensino e Pesquisa em Psicoterapia, de Porto Alegre (RS). E justamente por ser algo tão particular, muitos pais sentem-se plagiados ao descobrir que outro casal próximo teve a mesma inspiração.
Pior ainda se o “plágio” acontece dentro da família. A empresária paulistana Nicole Ceroni, por exemplo, jura que a cunhada “roubou” um de seus nomes masculinos prediletos. “Quando estava grávida, ela perguntou como iria se chamar o bebê. Respondi: Maria Eduarda ou Valentim”, conta. “Na época, ela ainda me criticou dizendo que soava como alguém velho.” Como Nicole teve uma menina, batizou a filha de Maria Eduarda, hoje com 6 anos. Um ano depois, a cunhada engravidou e, para a surpresa de Nicole, colocou o nome da criança de... Valentim. “Não pude acreditar!”, relembra. Na gravidez seguinte, mesmo sabendo que seria mãe de um menino, Nicole deixou para lá. “Achei que seria muito estranho dois primos com o mesmo nome.” Assim, em 2011, ela deu à luz Pedro. Mas o nome foi revelado apenas no finalzinho da gravidez – só por precaução.
Conforme-se!
Mas será mesmo que a gente tem o direito de ficar chateado quando alguém “rouba” o nome do nosso filho? Para responder a essa questão, a escritora norte-americana Pamela Redmond Satran, coautora do site Nameberry.com e de diversos livros sobre nomes de bebês, faz outras perguntas: 1) O nome que você escolheu é incomum? 2) Você já está grávida ou apenas reservando o nome para um bebê que ainda é teoria? 3) E qual a sua proximidade, emocional e geográfica, com a pessoa que fez a mesma escolha? Por exemplo, vamos supor que você esteja mesmo esperando e conte à sua vizinha, também gestante, que planeja chamar o bebê de Ozias, que era o nome do seu avô. Então, o bebê da vizinha nasce antes – e ela batiza a criança de Ozias. Nesse caso, Pamela acredita que, sim, você tem toda razão de ficar brava e até cortar relações. “No entanto, se você e uma amiga que vive em outra cidade adoram um nome popular como Amanda, o jeito é aceitar.”
Tem horas, porém, que vale mesmo a pena “proteger” o nome do seu futuro filho – ainda que ele seja de domínio público. Pamela recorda de uma leitora do site que pretendia dar o nome de Susana à filha. Claro que todos na família ficaram sabendo, incluindo a enteada da grávida. Só que a ex-mulher do pai do bebê, quando ouviu a novidade, adotou uma cadela bem feia. E adivinha qual nome foi dado ao bicho de estimação?
A funcionária pública Rose Misceno de Araújo, de Niterói (RJ), também tomou uma medida preventiva. Ela dizia que a filha, que hoje tem 3 anos, ia se chamar Madonna. “As pessoas temiam que ela sofresse preconceito na escola”, lembra. A brincadeira era para garantir a originalidade: a criança foi batizada de Luna (Lua, em espanhol).
Tradicional, moderno ou único?
As motivações que levam à escolha de um nome variam. Duas mães que optaram por Joaquim, entretanto, não necessariamente tinham a mesma intenção. Uma delas pode ter feito uma homenagem a um parente, enquanto a outra simplesmente é fã da apresentadora Angélica, que é mãe de Joaquim, 7 anos, Benício, 4, e está esperando uma menina (cujo nome ainda não foi revelado!). “Hoje em dia, um nome é muito mais ideológico do que identificador, como foi no passado”, afirma a linguista Patrícia de Jesus Carvalhinhos, professora da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP). Isso porque, atualmente, o significado já não faz diferença na vida do indivíduo. “Mas a escolha ainda é feita principalmente em virtude de sua beleza sonora”, completa. Falar o futuro nome e sobrenome do bebê em voz alta, aliás, é uma das dicas dos especialistas para escolhê-lo sem erro (confira outras ideias no quadro).
E se você está se achando muito moderno porque a sua filha tem o nome de uma cantora famosa, saiba que essa prática de homenagear ídolos ou heróis é comum desde a Idade Média. “As famílias de plebeus na Europa não raro colocavam em suas filhas nomes de rainhas, que eram as ‘celebridades’ da época”, conta Patrícia.
Esses nomes, atualmente, fazem parte do que os especialistas classificam como perenes, ou seja, nunca desaparecem. Nessa categoria, no Brasil, entram também nomes como Maria e José. Há ainda os chamados cíclicos, ou seja, que ficam sumidos por uns tempos, mas depois voltam às listas dos cartórios. E os que variam de acordo com a moda, como os de jogadores de futebol. “Hoje vivemos em um mundo globalizado e os nomes também sofrem influência da mídia, da TV, das redes sociais”, diz a linguista Patrícia. Ela explica, porém, que embora o acervo seja maior, nem sempre as pessoas inovam. Tanto que os nomes clássicos, como Pedro, Bernardo, Esther e Eduarda, só para citar uns exemplos, voltaram à moda. Segundo Clotilde Perez, professora de ciências da comunicação da USP e da PUC-SP, faz todo o sentido. A mesma globalização e seu excesso de informações, que tornam as coisas tão voláteis, acabam por nos deixar meio perdidos. “Por isso, estamos buscando as nossas raízes e damos valor a tudo o que nos traz uma memória afetiva, como a família, o vintage, o remake”, explica. Assim, se a geladeira vermelha parecida com a que a sua avó tinha é a última tendência, o nome dela também o é! “Um nome, afinal, funciona como um espelho da cultura”, completa Patrícia.
Copiado ou não, o nome do filho é especial para os pais – mas somente para eles. OK, talvez para os avós também! As outras pessoas, vale lembrar, não sabem que Vítor quer dizer vitória e que a mãe o escolheu porque teve uma gestação difícil. Por isso, a dona de casa Sonia Silva Peixoto da Rocha, de São Paulo, não ficou triste quando, há nove anos, uma amiga próxima, que teve bebê meses depois dela, também chamou a filha de Manuela. “A minha Manu é tão linda quanto a dela”, diz Sonia, que também é mãe de Joaquim, 4 anos. “Assim como nós duas, elas são muito amigas.” Por último, se alguém copiou o nome que você elegeu com tanto carinho, no mínimo é porque o achou bonito. E ainda que seu filho tenha vários colegas com o mesmo nome na escola, para você ele sempre vai ser único!
Acerte na escolha! 
Discuta o nome com o parceiro e, se quiser, com a família também. Mas a decisão tem de ser algo que VOCÊS gostem.
“Roubaram” o nome que você escolheu? Aposte em nomes compostos. Pedro, por exemplo, pode virar João Pedro. Pronto: ficou único outra vez!
Escolha um nome que signifique algo para você. Assim, a escolha vai ser duradoura – e não apenas algo que estava na moda.
Não sabe se o nome vai combinar com o seu filho? Que tal esperar ele nascer para ver o rostinho dele?
Inove! Se quer um nome descolado, pode inventá-lo ou buscar uma palavra que não seja frequentemente usada para nomear pessoas, como Amora ou Mel. Tenha em mente, porém, que o oficial do cartório pode recusar prenomes que exponham a criança ao ridículo.
Ilustração Alan Leitão


Nenhum comentário:

Postar um comentário