A difícil missão de escolher um livro

Gabriel Rinaldi
Aquela expressão de ponto de interrogação na hora em que uma família dá de cara com as dezenas e dezenas de livros infantis em uma livraria é mais comum do que você pensa. Também pudera... Em 2004, o Brasil produzia 11,2 milhões de livros infantis. Em 2010, esse número mais do que dobrou: foi para 26,5 milhões. Sendo assim, é de se esperar que você fique sem saber por onde começar quando precisa escolher um título (uma opção é justamente a nossa lista!). Então, seu filho corre e já começa a explorar as prateleiras e decidir o que quer ler e levar naquele dia. E é aí que você entra: não é preciso ser um especialista de Harvard para saber que os pais são a maior fonte de inspiração na paixão pela leitura. Mas é seu papel também ver o que ele quer ler. CRESCER realizou uma pesquisa online exclusiva com 2.100 leitores que têm filhos de 0 a 8 anos. Deles, 85% disseram ler para as crianças pelo menos uma vez por semana, e 38% afirmaram que o fator que mais influencia a compra dos livros é o interesse dos filhos. Ou seja, aquela corrida que eles dão à estante é bem importante. E o que mais chama a atenção das crianças? Para 54% são as edições bem coloridas, seguido por 24% que gostam de grandes formatos.
Além dos atrativos, que tipos de livros são os mais lidos pelas crianças? Dos que responderam à pesquisa, 77% dizem que os filhos leem mais os que contêm histórias no modo tradicional, com começo, meio e fim; 17% se interessam mais por livro-brinquedo; 4% preferem os que têm apenas imagens; e 1% gosta com poemas (variando bem pouco conforme a faixa de idade).
É isso mesmo. Os grandes marginalizados das estantes dessas crianças são as “categorias” poema e só com imagens. Mas a gente pode dar um jeito nisso. Quer ver?
HÁBITOS DE LEITURA 
45% leem para
os filhos todos os dias.
59% fazem isso antes de dormir.
54% compram de um a dois livros por mês.
54% dizem que os livros bem coloridos chamam mais a atenção das crianças.
77% preferem livros que contem
histórias de modo tradicional.
68% procuram mais livros de
contos de fadas e clássicos
Sobre poemas e imagens
Há uma explicação: a leitura de poemas ou de imagens não é exatamente a parte mais incentivada em nossa educação. O nonsense, e a atmosfera abstrata, de sonho, não é algo com a qual a sociedade de hoje – extremamente prática e objetiva – esteja acostumada. Por isso, essas categorias não nos atraem de primeira. O curioso é que tanto o gênero “poesia” quanto o “livro de imagem” podem ser de fácil identificação para os leitores novos. “São dois processos de leitura diferentes, mas complementares. O livro de imagem desperta a imaginação verbal, mexe com a capacidade de narrar da criança, fazendo com que ela vá buscar nela mesma as palavras que já ‘têm’”, diz Peter O´Sagae, doutor em Letras, especialista em literatura infantil e criador do blog Resumo do Cenário, onde comenta o tema. “E, por outro lado, o poema estimula o raciocínio e a criação visual da criança. Ela vai ouvindo e criando a própria imagem a partir da palavra do poeta, e vai reconhecendo dentro dela sentimentos e sensações.” Mas, segundo o especialista, para marcar mesmo, tanto o livro quanto o poema têm que causar um certo estranhamento. “É aquela sensação que mostra que tem algo novo ali. Causar curiosidade”, diz ele.
Assim, antes de qualquer coisa, temos que simplesmente aproveitar esse “boom” de produção da literatura infantil no Brasil e mergulhar nas opções. Essa é uma das mais importantes táticas para formar uma criança apaixonada por livros, segundo Maria José Nóbrega, professora e consultora sobre formação de leitura em diversas escolas de São Paulo. Sim, dá trabalho. “Ter uma biblioteca diversificada é prerrogativa na família. Até os livros ruins podem ser importantes: só assim a criança desenvolverá senso crítico. E não dá para terceirizar, ou seja, deixar a mediação só para a escola.” Por isso, aquela “briga” que citamos lá em cima entre o que seu filho gosta e o que você oferece de opção para ele é tão fundamental.
Confira dicas para você se apaixonar por livros com poemas, degustar melhor os ilustrados ou mesmo aqueles que só têm imagens e, claro, transformar com eles a vida do seu filho.
Como e por que amar os poemas
1. Trabalhar ou brincar com a palavra não é apenas rimar “mão” com “não”: busque textos com versos criativos, que sejam divertidos, emocionantes, surpreendentes, e – por que não? –, até meio malucos!
2. Para ter em casa, evite obras que, por algum tipo de intenção didática ou de ensinar algo, abandonem a criatividade ou qualidade do texto.
3. Leiam em voz alta para irem reconhecendo juntos as construções linguísticas (mesmo a criança sendo pequena, ela já pode ir se habituando, como um treino para depois).
4. Deixem-se levar pela sonoridade dos versos, repetindo os mais interessantes, vendo o que mais chamou a atenção. Divirtam-se com eles, não procurem sempre um sentido. É arte.
Como e por que amar os livros de imagens
1. Um livro de imagens não é destinado apenas à criança que ainda não sabe ler. Ler um livro ilustrado é também apreciar o uso de um formato, de enquadramentos, associar representações, escolher uma ordem de leitura.
2. Ele deve ir muito além de uma sequência óbvia que conte uma história. Pode ter um elemento de sonho, algo caótico, que surpreenda e desafie o leitor.
3. Permita à criança que abra na página que quiser, espie as imagens de ponta-cabeça, vá e volte de trás para a frente, sem um roteiro prévio fixo. O título também reserva muita expectativa: converse a respeito antes.
4. A cada virar de página, brinque sempre de adivinhar o que vai acontecer, levante hipóteses sobre o que estará estampado na próxima cena.

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